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quarta-feira, 5 de março de 2025

Kant e a Revolução da Razão: Como Ele Mudou a Filosofia?

 Poucos filósofos tiveram um impacto tão profundo na história do pensamento quanto Immanuel Kant. Sua filosofia marcou um divisor de águas entre a tradição racionalista e empirista, introduzindo uma nova maneira de compreender o conhecimento, a moralidade e a própria estrutura da razão humana. Sua "Revolução Copernicana" na filosofia transformou a maneira como percebemos a relação entre sujeito e objeto, conhecimento e realidade.

O Contexto Filosófico Antes de Kant

Antes de Kant, a filosofia estava dividida entre duas principais correntes:

  • Racionalismo: Representado por filósofos como Descartes, Spinoza e Leibniz, acreditava que o conhecimento verdadeiro vinha da razão e de princípios inatos.

  • Empirismo: Defendido por pensadores como Locke, Berkeley e Hume, sustentava que todo conhecimento provinha da experiência sensível.

Kant percebeu limitações em ambas as abordagens. O racionalismo, ao confiar exclusivamente na razão, não explicava como adquirimos conhecimento do mundo real. O empirismo, por sua vez, não conseguia justificar conceitos universais e necessários, como a matemática e as leis da física.

A Revolução Copernicana de Kant

Kant propôs que, em vez de o conhecimento depender do objeto externo, é a mente humana que organiza a experiência sensível conforme suas próprias estruturas a priori. Assim como Copérnico propôs que a Terra gira em torno do Sol, Kant sugeriu que o conhecimento gira em torno das condições da mente humana.

Essa revolução conceitual é apresentada em sua principal obra, Crítica da Razão Pura (1781), onde Kant distingue entre:

  • Juízos analíticos (que são verdadeiros por definição, como "todos os solteiros são não casados").

  • Juízos sintéticos a priori (que ampliam o conhecimento e são necessários, como as leis da física e a matemática, que independem da experiência sensível).

A partir disso, Kant mostra que o sujeito não é uma tábula rasa, como queriam os empiristas, mas também não nasce com ideias inatas, como queriam os racionalistas. Em vez disso, a mente possui estruturas a priori (como espaço, tempo e categorias do entendimento) que organizam a experiência.

A Filosofia Moral de Kant

Além da teoria do conhecimento, Kant também revolucionou a ética com a Crítica da Razão Prática (1788). Ele rejeitou tanto o consequencialismo (que julga a moralidade com base nos resultados das ações) quanto a ética da autoridade (baseada na religião ou em convenções sociais), propondo uma ética baseada na razão pura.

Seu principal conceito é o Imperativo Categórico, que pode ser resumido da seguinte forma:

  1. Universalização: "Aja apenas segundo uma máxima que possa ao mesmo tempo se tornar uma lei universal".

  2. Fins e não meios: "Aja de tal forma que trates a humanidade, tanto na tua pessoa como na de qualquer outro, sempre como um fim, nunca como um meio".

Isso significa que a moralidade deve ser baseada em princípios universais e não pode depender das consequências individuais de cada caso.

O Impacto de Kant na Filosofia e na Ciência

As ideias kantianas influenciaram diversas áreas do conhecimento:

  • Na filosofia, originaram o idealismo alemão (Hegel, Fichte, Schelling) e influenciaram o existencialismo e a fenomenologia.

  • Na ciência, ajudaram a formular princípios epistemológicos utilizados por Einstein na teoria da relatividade.

  • Na moral e na política, seus princípios inspiraram concepções modernas de direitos humanos e autonomia individual.

Conclusão

Kant foi responsável por uma das mais profundas transformações na história da filosofia. Sua abordagem conciliou racionalismo e empirismo, reformulou a teoria do conhecimento e estabeleceu uma ética universalista baseada na razão. Seu pensamento continua sendo fundamental para a filosofia contemporânea, influenciando desde debates sobre metafísica e ciência até ética e política.

Bibliografia

  • KANT, Immanuel. Crítica da Razão Pura. Tradução de Valerio Rohden e Ubirajara Rancan de Azevedo Marques. 4ª ed. Petrópolis: Vozes, 2015.

  • KANT, Immanuel. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Tradução de Guido de Almeida. Lisboa: Edições 70, 2008.

  • SCRUTON, Roger. Kant: Uma Breve Introdução. Tradução de Clóvis Marques. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

  • MARCONDES, Danilo. Iniciação à História da Filosofia. 11ª ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2015.

  • ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Tradução de Alfredo Bosi. São Paulo: Martins Fontes, 2007.